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18/01/2011

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA QUE IMPEDIU A MILITARIZAÇÃO DOS BOMBEIROS EM PORTUGAL


Marechal Óscar Carmona

Em plena recta final da campanha eleitoral para as Eleições Presidenciais 2011, recordamos o Presidente da República que, segundo é-nos dado concluir, por via da análise a vários factos, manteve maior relação com os bombeiros portugueses: o marechal Óscar Carmona (1869-1951).

Na verdade, são muitas as referências noticiosas, e não só, que documentam a presença daquele antigo Chefe de Estado em eventos promovidos por associações e corpos de bombeiros, de Norte a Sul do país.

Todavia, uma das situações mais marcantes envolvendo o marechal reporta-se a 1930, num momento de alguma desorganização dos bombeiros voluntários, motivada pela falta de uma associação que, a nível nacional, congregasse, representasse e desse novo impulso às instituições então existentes.

Pensava-se, na altura, que a militarização dos bombeiros em geral fosse o melhor caminho a seguir.

Deveu-se, contudo, a Óscar Carmona, um dos mais prestigiados militares portugueses, o afastamento de tal ideia.

Quando da sua morte, em 1951, a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), cuja fundação a 18 de Agosto de 1930 veio, progressivamente, colocar um fim na citada desorganização, recordou:

"Os Bombeiros de Portugal, e nomeadamente os Voluntários, nunca poderão esquecer-se de que foi ele quem se impôs para que não fosse por diante a ideia de os militarizar, quando, por altura do Congresso do Estoril, se pensou nessa modalidade que lhes retiraria todas as características ideológicas."

Antes, porém, o jornal O Fogo, relatando os acontecimentos daquela reunião magna, onde cerca de 650 bombeiros e 18 veículos desfilaram perante o ainda general, dá conta:

"Sua Ex.ª o sr. Presidente da República, ao ver o garboso desfilar das forças representativas do esforço da iniciativa particular, teve palavras de justiça e apreço, declarando que dentro da sua esfera e acção poderiam contar com o seu apoio. Orgulha-nos as apreciações de Sua Ex.ª´porque sendo ditadas sem nenhuma das formas protocolares elas foram do coração e como tal nós os bombeiros Portugueses as devemos receber."

"Dotes de carácter e virtudes cívicas"

Foi, portanto, o Presidente da República, um autêntico "aliado" da LBP, reconhecendo nos bombeiros portugueses uma "demonstração de força, altruísmo e patriotismo", conforme sublinhado aos seus dirigentes na II Grande Parada dos Bombeiros Portugueses, realizada em Lisboa, a 16 de Junho de 1935, por iniciativa do Diário de Notícias.

Em meados dos anos 30, ao venerar o mais alto magistrado da nação - aspecto de que não há memória, pelo menos de modo tão vincado, no que tem a ver com o presidente do Conselho, Oliveira Salazar, que manteve sempre uma postura distante dos bombeiros e das suas estruturas - a co-denominada Confederação de Associações e Corporações de Bombeiros dedicou-lhe a primeira página de um dos números do seu boletim, figurando, para além da fotografia oficial, o seguinte texto:

"A Liga dos Bombeiros Portugueses rende as suas homenagens mais calorosas ao prestigioso Chefe de Estado, cujos dotes de carácter e virtudes cívicas são garantia de que as aspirações dos Bombeiros Portugueses encontrarão em Sua Excelência o merecido carinho e segura protecção."

A história regista que o mais duradouro dos presidentes da República Portuguesa (esteve no poder durante cerca de 25 anos), "afirmou-se, sobretudo, pela sua habilidade política, facilidade de relacionamento, prestígio da família e competência técnica".

Refira-se que à data do seu contributo em prol dos bombeiros portugueses ainda não havia sido institucionalizado o regime do Estado Novo e aprovada a nova Constituição de 1933. Depois disto, destaca a história, "a intervenção activa de Carmona nos assuntos políticos passou a ser escassa e praticamente nula, principalmente devido à concentração das pastas-chave em Salazar, que controlava todo o Governo".

Como iconografia, publicamos seis curiosas imagens, propriedade da Direcção Geral de Arquivos, a primeira das quais datada de 13 de Abril de 1937, referente, segundo o respectivo título, a uma "manifestação ao Chefe do Estado, promovida pelos Bombeiros Voluntários de Cascais". Seguem-se cerimónias no Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa, a 28 de Maio de 1937; e nos Bombeiros Voluntários da Parede, ao tempo também conhecidos por Associação de Beneficência "Amadeu Duarte", em 10 de Outubro de 1937.

in: Fogo e História

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