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15/02/2011

15 de Fevereiro de 1941 . Ciclone destroi Algarve


Há 70 anos, o Inverno resistia a ceder lugar à Primavera e, depois de vários dias de muita chuva, o pior aconteceu. Se a nefasta II Guerra Mundial ocupava até então, e consecutivamente, as primeiras páginas dos diários nacionais, um raro fenómeno meteorológico remeteu as notícias dos combates para as páginas centrais.

Um terrível ciclone extra-tropical atingiu e devastou Portugal, a 15 de Fevereiro de 1941.

Nesse mesmo sábado, o jornal «O Século» publicava uma notícia relativa a Olhão, datada do dia anterior: «Um fortíssimo temporal – o terceiro destes últimos dias - assolou hoje [14 de Fevereiro] esta região, causando sérios prejuízos nas embarcações, muitas das quais foram arrojadas de encontro ao cais».

Se a notícia era já por si má, longe estavam os algarvios de imaginar o que ocorreria nesse fatídico dia 15 de Fevereiro.

O boletim meteorológico apenas previa «aguaceiros alternados com abertas; ventos do quadrante W bastante fortes com rajadas e golpes de vento forte durante os aguaceiros». Em suma, tudo apontava para uma situação idêntica aos dias anteriores, mas a previsão falhou.

Naquele dia, teve lugar a maior tempestade até então registada pelo Observatório Meteorológico de Lisboa, criado em 1854.

Em escassas horas, a pressão atmosférica baixou drasticamente, determinada por um cavamento extraordinário de uma depressão que se deslocou, numa fase inicial, dos Açores em direção à Península Ibérica e, posteriormente, paralelamente à costa ocidental do continente, de Sul para Norte.

O resultado foi uma violentíssima tempestade que atingiu o auge em Portugal às 15 horas daquele Sábado Magro.

Os ventos alcançaram em Lisboa uma velocidade de 127 km/h, semeando o terror na capital, como em todo o país.

As consequências foram nefastas: além de várias horas de pânico vivido pelas populações, registaram-se dezenas de vítimas mortais e elevados prejuízos materiais.

Em todo um cenário dantesco, o Algarve não foi exceção. A imprensa da época, como «O Século» e o «Diário de Notícias», divulgou amplamente os efeitos na região.

O primeiro daqueles periódicos traçou mesmo uma síntese a nível regional:

«A província do Algarve foi assolada por um violentíssimo temporal, que causou prejuízos de grande monta, avaliados em dezenas de milhar de contos. A floração das amendoeiras foi desfeita pela ventania e tem-se como certa a perda quase total da produção do fruto, o que agrava consideravelmente a crise. Grandes trovoadas pairaram por toda a região. Muitas casas ficaram destruídas ou sem telhados e a violência da tempestade fez-se sentir, em especial nas zonas fabris e nos aglomerados de habitações de gente pobre. Há milhares de árvores derrubadas. No litoral, a tormenta atingiu inaudita violência e o mar tocado pelo ciclone, invadiu grandes extensões de terra cultivada, devastando completamente sementeiras e pomares. Por toda a parte há tristeza e desolação».

O vento terá soprado a uma velocidade de 140 km/h no Algarve e, nas palavras do correspondente do «Diário de Notícias», «tudo foi varrido, esfacelado, aniquilado».

Em Olhão, «muitas são as embarcações que estão avariadas ou afundadas. Várias embarcações carregadas de esparto foram atiradas para terra perdendo-se a carga. (…) Na fábrica de conservas Figueiredo & C.ª abateu o telhado, havendo prejuízos no valor de 150 contos. Outro tanto sucedeu a outras fábricas, casas e edifícios da companhia Portuguesa de Congelação, onde abateu uma parede. Os empregados nada sofreram por ser hora de almoço. O cinema Apolo ficou completamente destruído. Os telhados da maior parte das fábricas foram pelos ares o mesmo sucedendo às árvores da rua da República e aos postes de iluminação pública. (…) As sementeiras estão completamente destruídas. Só na horta da Penha, propriedade do Sr. João Neto, há mais de 200 amendoeiras arrancadas pela raiz. O fornecimento de energia eléctrica está também interrompido desde ontem [14 de Fevereiro]».

Quanto aos acessos à capital de distrito, «na estrada de Faro a Olhão caíram mais de 200 eucaliptos; e entre aquela vila e Portimão contam-se 470 postos telegráficos derrubados».

O tráfego automóvel era pois muito condicionado, e como se isso não bastasse, «as linhas telefónicas estão interrompidas; os comboios não podem circular por as vias estarem obstruídas com postes e árvores. Na estrada de Portimão, um garoto cuja identidade se desconhece, foi morto pela queda de uma árvore».

Já no sítio das Figuras (em Faro), «foram derrubados todos os eucaliptos ali existentes, assim como os postes telegráficos e telefónicos».

No dia 16 era feito o balanço: «Os prejuízos em Faro são como já dissemos, muito importantes. No cemitério caíram numerosos ciprestes que atingiram vários jazigos e levantaram muitas sepulturas. Abateu também um muro de um quintal na rua de Alportel e a platibanda de uma casa na rua Coelho de Melo. Na estrada de Loulé foram derrubados todos os eucaliptos e todos os postes telegráficos».

Também o Liceu João de Deus sofreu muitos estragos, de tal forma que as aulas acabaram por ser suspensas.

Em Santa Bárbara de Nexe e Estoi, «a violência do vento devastou completamente sementeiras e destruiu numerosas árvores».

No jardim público de Estoi, «caíram alguns dos grandes ciprestes que ali existem. Uma dessas árvores seculares, cujo tronco dificilmente seria abraçado por oito homens, foi arrancado pela raiz. Em toda a aldeia, cuja população é constituída por pequenos proprietários, a desolação é completa».

Já em Loulé, «os prejuízos são também enormes. Parte da rede eléctrica ficou danificada, tendo-se interrompido por completo, o serviço telegráfico e telefónico. O trânsito nas estradas também ficou interrompido, por motivos dos desabamentos de árvores, o mesmo sucedeu na linha férrea. Desabou o «esqueleto» dos bombeiros, em cima de uma habitação que ficou muito danificada. Muitas outras casas ruíram, e só na rua do Prior aluíram cinco prédios. Nos campos e arredores há estragos incalculáveis».

Afinal, «perdeu-se totalmente a colheita de amêndoas e houve propriedades que quase ficaram limpas de arvoredo e com os favais e searas queimados», noticiavam os jornais da época.

Em Quarteira, «também se verificaram importantes estragos, pois o mar avançou pela povoação, derrubando casas e arrastando tudo em turbilhão. Junto à estrada nuns pinheirais foram derrubadas mais de cem árvores».

Na então aldeia piscatória, a violência do mar demoliu ainda «a parede principal do quartel da guarda-fiscal».

Também a «antiga fábrica da Sociedade de Transportes e Comércio foi parcialmente destruída, assim como casas onde estavam instalados estabelecimentos e armazéns de peixe. O importante olival existente na estrada de Loulé para a estação, pertencente ao Sr. Cipriano Neves, sofreu igualmente muitos estragos. Foram destruídas mais de 150 árvores».

Na freguesia de Salir, «houve danos incalculáveis. Caíram milhares de sobreiros, eucaliptos, amendoeiras, e ficaram devastados hortas e pomares. O vendaval arrasou ou destruiu os tugúrios de gente humilde que ficou desabrigada e na maior miséria. Os prejuízos são avaliados em mais de 10 000 contos. Nada escapou à fúria do vento que até levou a cruz do presbitério e devassou os jazigos no cemitério. (…) Para a desgraça ser maior as feras acossadas pela fome desceram aos povoados e devastaram os rebanhos».

(CONTINUA)...

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