A excessiva burocracia e a demora em avançar na reconstrução das casas destruídas no fogo que devastou a serra algarvia há um mês está a deixar proprietários de localidades do concelho de Tavira descrentes na ajuda.
Trinta dias depois de o fogo ter devastado mais de 20 mil hectares da serra algarvia, Manuel Martins Bento, filho de um dos casais que ficou com a habitação destruída, na povoação de Carvalhal (freguesia de Santa Catarina da Fonte do Bispo, concelho de Tavira), reconheceu que a situação «está cada vez mais difícil» e a ajuda até agora foi pouca.
«Até aqui não houve nada. E cada vez as coisas estão mais difíceis, porque agora querem tanta coisa que a gente não sabe como isto vai ser», afirmou, referindo-se às exigências burocráticas que já ouviu da autarquia e da Segurança Social para avançarem com a reconstrução da habitação.
O pai, Manuel Rufino Bento, mostrou como o fogo, que deflagrou a 18 de Julho em Cachopo, avançou e chegou à aldeia em pouco tempo, atingindo a casa onde residia há 40 anos, consumindo tudo à sua passagem e deixando apenas as paredes de pé e o proprietário com a roupa que tinha no corpo.
Com os pais instalados em casas de familiares, juntamente com um irmão deficiente, Manuel Martins Bento contou que a Segurança Social e a Câmara estiveram no local a fazer a avaliação, mas «disseram para não mexer em nada e já vai um mês».
O morador recorda que houve pessoas que se voluntariaram para ajudar na remoção dos destroços e ajudar a reconstruir alguma coisa, mas como as indicações da autarquia foram no sentido de não mexer em nada, tem todo o entulho, incluindo uma panela de pressão completamente derretida, ainda dentro da habitação à espera de novas ordens.
«Não vejo futuro nenhum aqui. Dizia-se que vinha dinheiro, mas até agora…», lamentou acrescentando que «daqui a dois dias o tempo muda, é inverno, e eles estão aí bastante mal», lamentou.
Leonardo Martins, presidente da Junta de Freguesia de Tavira, considerou que o primeiro levantamento do que ardeu e das habitações destruídas pelo fogo «foi muito célere», mas as pessoas que ficaram sem casa estão a braços com muita burocracia
«A Junta disponibilizou instalações para que técnicos da Segurança Social e da autarquia trabalhassem e recebessem as pessoas para tentar tratar das coisas o mais rápido possível. Esta semana estiveram técnicos da Segurança Social a falar com as pessoas, sobretudo com as que perderam as casas, e o que noto, e fiz passar a mensagem ao presidente da Câmara, é a de que a burocracia e a papelada é, nesta fase do campeonato, muita e excessiva», afirmou.
Na freguesia de Santa Catarina ficaram seis habitações destruídas, além dos palheiros, arrecadações e outros anexos, e Leonardo Martins adverte que, para muitas das pessoas afetadas, que são idosas, as exigências burocráticas complicam o avançar dos processos.
«É muito papel, para muitas dessas pessoas, que são analfabetas, e não conseguem andar a correr para vários organismos», acrescentou.
Para o autarca, o ideal era «aligeirar» a burocracia e «fazer as obras que as pessoas necessitam e depois resolver-se a questão dos subsídios e dos pagamentos» mais tarde.
Lusa/SOL
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