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24/11/2014

O síndroma da opinião precoce

UMA DAS DOENÇAS mais comuns em Portugal é o Síndroma da Opinião Precoce. 

Infelizmente, é muito difícil discutir e tratar esta doença. A maioria dos doentes não a reconhece como um problema, acabando por emitir opiniões várias vezes ao dia, muitas vezes sem qualquer provocação, em sucessão, provocando grande sofrimento a familiares e amigos.

Quem sofre desta doença é incapaz de ouvir um telejornal, ler uma revista, ouvir um político, assistir a um acidente, encontrar um amigo ou, enfim, andar pela rua sem emitir, constantemente e em grande volume, opiniões sonoras e cheias de certezas.

Outros dos sintomas desta doença é a aparente surdez — pois enquanto emite várias opiniões, o doente não ouve ninguém.

É fácil ainda detectar a doença pelo radicalismo das opiniões e ainda pela completa indiferença a factos ou argumentos.

O Síndroma da Opinião Precoce estraga conversas, leva a conclusões absurdas, impede o doente de procurar a melhor opinião possível, causa irritação e chega a destruir lares e famílias aparentemente felizes. Além disso, transforma o doente numa pessoa triste, irritada, convencida que vive num mundo louco, um mundo que não segue as opiniões de quem sabe (o próprio doente, claro).
Quem sofre desta doença é incapaz de ouvir um telejornal, ler uma revista, ouvir um político, assistir a um acidente, encontrar um amigo ou, enfim, andar pela rua sem emitir, constantemente e em grande volume, opiniões sonoras e cheias de certezas.

HÁ TÉCNICAS PARA evitar este problema: quando o doente sente que está quase a emitir uma opinião antes do tempo devido, deve pensar noutra coisa. Ou então, pode pensar no mesmo assunto, noutra perspectiva — digamos que doutra posição. O doente pode ainda tentar pensar nos argumentos de quem está a discutir com ele — porque uma conversa é sempre a dois e o fruir do parceiro é também importante.

Há ainda exercícios para evitar a opinião precoce. O doente é obrigado a morder a língua quando emite uma opinião e deve aceitar que não é obrigado a “achar” coisas sobre tudo e, mesmo que ache, pode guardar as suas opiniões para si.

Outro dos exercícios, mais avançados, obriga o doente a procurar argumentos contrários, a procurar factos, a ouvir várias opiniões, a estruturar a opinião, a deixar de pensar que os outros são todos parvos. Estes exercícios são extenuantes e têm tido pouca adesão.

Uma das consequências tristes do Síndroma da Opinião Precoce é a solidão dos doentes. Mais tarde ou mais cedo, os parceiros de argumentação deixam de se interessar pelas opiniões do doente, precoces ou não.
… quando o doente sente que está quase a emitir uma opinião antes do tempo devido, deve pensar noutra coisa.

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