O alerta chega dos bombeiros de Lisboa: a qualidade do socorro na cidade está a ser posta em causa por uma reestruturação levada a cabo pela Câmara Municipal.
Num documento enviado a António Costa, a que o SOL teve acesso, os sapadores do Sindicato dos Trabalhadores do Município (STM) falam num «retrocesso organizacional»e dão exemplos concretos da forma como as mudanças estão a afectar o auxílio prestado aos lisboetas.
Um dos problemas apontados na carta enviada a Costa é o facto de a reestruturação – iniciada em finais de Março – ter feito com que haja «apenas uma viatura de desencarceramento para toda a cidade».
Por causa disso, as vítimas de um acidente na Avenida Salgado Zenha estiveram 10 minutos à espera de serem desencarceradas, quando podiam ter tido ajuda «em cerca de dois minutos», já que estavam junto a um dos quartéis da cidade. O caso, sublinham os bombeiros, podia ter sido ainda mais grave «se o acidente tivesse ocorrido em hora de ponta».
A situação tem-se repetido e, segundo o relatório do STM, «só o espírito de cumprimento do dever dos bombeiros tem evitado danos maiores».
Faltam homens e meios
Os sapadores explicam que a redução do número de homens por equipa – que passou de quatro para três – torna mais difícil o socorro, da mesma maneira que o número de viaturas nos quartéis é «manifestamente insuficiente». Razão pela qual os bombeiros dizem ser «vital a aquisição de mais alguns veículos escadas e de desencarceramento».
Uma fonte do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) explica, aliás, ao SOL que o incêndio que ocorreu na Mouraria a 25 de Maio é um bom exemplo do que está a falhar. «Foi enviada apenas uma viatura para o local. E só muito depois chegaram mais duas. Graças a isso, o fogo alastrou aos edifícios contíguos à pensão onde tinha deflagrado o incêndio».
O problema, escreve-se no documento dirigido a Costa, acontece «devido ao facto de as viaturas que saem para socorro nem sempre saírem do mesmo quartel».
A mesma fonte do RSB conta que, na quarta-feira passada, o quartel mais próximo do Aeroporto de Lisboa «esteve todo o dia sem efectivos suficientes para fazer sair uma viatura» em caso de chamada. «Se tivesse havido uma calamidade no aeroporto, o socorro demoraria o dobro do tempo necessário».
Mas é também o auxílio prestado nos acidentes que se dão no Tejo que está em causa. Segundo o relatório enviado a António Costa, o Corpo de Mergulhadores do RSB foi transferido da Avenida D. Carlos I para Chelas, onde não há sequer um tanque para treinos básicos e «desguarnecendo completamente áreas próximas da foz do rio Tejo».
Para os sapadores está em causa a qualidade do serviço de uma instituição com mais de seis séculos de existência e que tem actualmente um dos tempos médios de resposta mais rápidos da Europa. «Conseguimos chegar rapidamente a locais onde por vezes os bombeiros até têm de ir a pé, por não entrarem as viaturas, porque temos um sistema de proximidade», comenta uma fonte do Regimento, explicando que há 10 quartéis espalhados por Lisboa.
Câmara nega problemas
Contactada pelo SOL, fonte oficial da Câmara de Lisboa assegura, porém, que «estão afastadas quaisquer hipóteses de diminuição da qualidade operacional». O gabinete de António Costa sublinha que Lisboa é uma das cidades europeias com um melhor rácio de bombeiros «por quilómetro quadrado e por cada 100 mil habitantes, tendo ainda recentemente entrado ao serviço 156 novos sapadores bombeiros».
A mesma fonte frisa ainda que as «escassas alterações» feitas ao RSB «foram validadas pelo vereador do pelouro, após proposta do Comando e com o parecer favorável das chefias».
margarida.davim@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=51549
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