As vítimas de paragem cardíaca na rua ou em casa são agora potenciais dadores de rins e fígado.
A experiência já foi testada com sucesso pelo Centro Hospitalar de S. João, no Porto, que assina esta sexta-feira com o INEM e o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) um protocolo de um projeto de colaboração pioneiro que ajudará a colher mais órgãos na Área Metropolitana do Porto.
Ao contrário do que acontece com os dadores em morte cerebral, dos quais é possível aproveitar órgãos e tecidos, nos dadores de coração parado apenas era possível colher tecidos porque sem circulação sanguínea os órgãos morrem mais rapidamente.
Já foi possível colher órgãos de seis dadores de paragem cardíaca, em colaboração com as equipas do INEM
Recentemente, perante casos de reanimação cardíaca irreversíveis, o Centro Hospitalar de S. João testou o uso de uma máquina que bombeia e oxigena o sangue fora do corpo (ECMO) para preservar os órgãos abdominais da vítima, nomeadamente os rins e o fígado. Estes recuperam a sua vitalidade e podem ser aproveitados para transplante, explicou ao JN, Ana França, vice-presidente do IPST. A novidade é também o envolvimento do INEM em todo este processo, de modo a aproveitar as vítimas do ambiente extra-hospitalar.
Num caso de paragem cardíaca, a equipa médica do INEM não desiste das manobras de reanimação mesmo quando o cenário é irreversível. A vítima é transportada ao hospital, ventilada e sujeita a massagens ritmadas por um compressor cardíaco automático. "No hospital, se não há qualquer sinal de reversão da paragem cardíaca, são suspensas todas as medidas de reanimação por uns momentos e é declarado o óbito. A partir daí, faz-se a utilização do ECMO para recuperação dos órgãos abdominais", detalha Ana França. O pâncreas não é aproveitável por ser muito sensível e os pulmões envolvem muito mais técnicas, pelo que, por enquanto, só serão aproveitados os rins e o fígado, acrescentou.
No S. João já foi possível colher órgãos de seis dadores de paragem cardíaca, em colaboração com as equipas da viatura médica de emergência e reanimação (VMER) do hospital. O protocolo que será assinado esta manhã pretende envolver todas as VMER da região, nomeadamente do Centro Hospitalar do Porto, do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho e da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, que passam a encaminhar estas vítimas para o Hospital de S. João.
A responsável pela área da transplantação do IPST sublinha que este deve ser um meio complementar para a transplantação, não devendo ser descuradas as potencialidades dos dadores em morte cerebral. Ana França elogia os passos dados pelo Hospital de S. João e gostaria de replicá-los em Lisboa, nomeadamente no Hospital de Santa Maria, que também tem uma máquina ECMO, mas por enquanto "ainda não há condições e organização para isso".
Leia mais: S. João e INEM vão colher órgãos de quem morre na rua http://www.jn.pt/nacional/interior/s-joao-e-inem-vao-colher-orgaos-de-quem-morre-na-rua-5428494.html#ixzz4MOteG85W
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